Entrevista com David Saltzberg, o Conselheiro sobre Ciência em The Big Bang Theory
P: Qual é exatamente o seu trabalho no show? Você escreve scripts ou simplesmente responde as perguntas dos roteiristas?
David: Os roteiristas mandam os scripts para mim com cerca de um mês de antecedência. Ás vezes o lado científico já está lá e eu apenas arrumo algumas coisas, se necessário. Alguns roteiristas são grandes fãs da ciência e conhecem impressionantemente muita coisa. Entretanto, até mesmo uma pequena palavra pode fazer a diferença entre uma coisa soar correto para o público e falso para a ciência, e o meu trabalho é fazer que isso fique certo (ciência). Outras vezes, eles me mandam um script com “colocar ciência” para substituir alguns detalhes e eu sugiro algumas coisas para preencher a cena. Por exemplo, na segunda temporada, eles precisavam de um projeto científico em que Leonard estivesse trabalhando para mostrar à sua mãe quando ela visitou seu laboratório. Sugeri um projeto real que contribuiu potencialmente para a descoberta da matéria negra feita recentemente por um grupo italiano. Se prestarem atenção (público), pode aprender algumas notícias verdadeiras sobre a física. Eu mandei para o set alguns designers para escreverem nos quadros brancos que foram postos uma semana antes da gravação. Ás vezes, os escritos referem-se ao tema do episódio. Por exemplo, no episódio onde os meninos compraram uma réplica da máquina do tempo, as equações do tempo de viagem que estavam no quadro foram utilizadas dos “wormholes” (túneis entre um tempo espacial e outro). Um matemático escreveu em seu blog nos criticando pela forma que inserimos os spins no quadro de forma estranha, mas também reconheceu também que esta é a forma que os físicos fariam. Os detalhes maiores ás vezes eles me perguntam, por exemplo, eles me perguntaram qual tipo de cilindro de nitrogênio líquido Leslie usaria para congelar banana na primeira temporada. Eu comentei sobre “dewars” (pequenos galões) e eles encontraram um ótimo de uma loja de suprimentos usados em New Jersey. Você vê atores lendo livros, que muitas vezes são livros de autoria de meus amigos. De qualquer forma, é fantástico ver eles contribuindo para a série
. O toalhete da estação espacial foi uma obra-prima. Infelizmente em ficção científica e de muitos outros aspectos “inteligentes” do diálogo eu não conheço quase nada. Estes são aspectos que vêem da vida real dos roteiristas.P: Você já esteve no set? Se sim, o que achou?
David: Eu vou todas as semanas na gravação. Eu vou à gravação de cada episódio, se houver no último minuto uma pergunta sobre ciência, mas raramente acontece. Eu perdi alguns meses quando minha pesquisa me levou para a Antártida e isso me fez perder muito do pessoal. A série é gravada em frente a centenas de pessoas para dar o aspecto de um teatro. É uma ótima opção para uma terça-feira à noite. Os roteiristas me deixam ficar junto onde eles chamam de “video aldeia”, onde assistem pelo monitor. Tento descobrir o que eles estão fazendo e o que estão ouvindo, mas fico um pouco perdido. Acho que seria semelhante se um roteirista nos visitasse quando estamos realizando um experimento e tentasse descobrir como são nossas reações. Eu também levo físicos convidados e universitários da minha universidade, UCLA. O elenco e a produção tem a oportunidade de conhecer outros físicos além de mim, desta forma. Por trás das cortinas é como uma grande família. As pessoas são realmente amigas. O elenco e a produção ficam sem fazer nada e batendo papo nos bastidores. Algo que me espanta na série é como eles constroem um set inteiro de produção para ser utilizado apenas uma vez. Como a sala de controles no JPL (Laboratório de Propulsão a Jato, em português) na segunda temporada e o supermercado na primeira. Estes cenários são feitos em dias, com esforço enorme, e são usados por apenas alguns minutos na tela. Antes de estar envolvido na série, eu não tinha idéia do que eles faziam. Algumas pessoas do elenco e da produção também visitaram nossos laboratórios aqui no UCLA. Aprenderam sobre alguns experimentos modernos e conheceram também o dia-a-dia de físicos que são apaixonados pelo seu trabalho. Acho que o elenco não conhecia tantos físicos antes, e acredito que isso é útil para eles.
P: Qual sua piada favorita sobre ciência da série?
David: Em geral, gosto quando eles fazem coisas de “novos especialistas em física”. Por exemplo, na primeira temporada, tem uma cena onde Leonard e Sheldon sobem uma caixa pesada para o apartamento de Penny usando as escadas como um plano inclinado. O encontro de Leonard/Penny, em que ele gira a azeitona no vidro é uma descrição concisa entre a diferença de força centrífuga e centrípeta. Todos adoram a fantasia do Efeito Doppler do Sheldon. Uma professora do High School em contou que ela usou a cena, onde ela normalmente coloca as ciências Hollywoodianas para seus alunos criticarem. No entanto, não pôde colocar nada de errado na descrição de Sheldon sobre o movimento das ondas sonoras.
P: O que você acha de Sheldon? E o que a comunidade científica pensa sobre seus modos? Consideram acreditável/crível ou extravagante?
David: Não sei como Jim Parsons (Sheldon) faz. Seus modos não são apenas bem representados, mas realmente soa como se fosse um físico dizendo. Não só o critério de pronúncia, mas todo o ritmo de fala e ênfase em suas palavras devem estar corretas. Jim diz que não entende a ciência, mas não acredito nele. Acho que ele trabalha inacreditavelmente duro a cada semana e chega sabendo do que ele está dizendo. Os modos são a chave mestra do que os escritores estão fazendo. Ás vezes é muito escondido, mas se as pessoas forem procurar, elas verão que tudo está relacionado a idéias científicas verdadeiras que remontam o personagem. Pessoas que não assistem a série, que vêem apenas as propagandas, muitas vezes têm uma opinião negativa sobre Sheldon. No entanto, a maioria dos físicos que realmente assistiram ao seriado
reconhecem um “Sheldon” em seus laboratórios ou em sua faculdade. Ás vezes me contam sobre alguém ainda mais extremo. Embora nunca digam que “são um Sheldon”. Tenho me pegado dizendo coisas que Sheldon disse e me envergonho um pouco.P: O que seus amigos cientistas acham deste trabalho? Acham que você está indo bem ou que irá popularizar a ciência?
David: A resposta esmagadora e forte que recebo é positiva. Tivemos uma página inteira positiva na Science Magazine. Estou muito feliz pelo pessoal de relações públicas da American Physical Society que me escreveu, dizendo sobre o que adoravam na série e até mandaram para o elenco brinquedos da física. Fomos citados na “Physics Today” como o próximo seriado que irei ver. Tem sido um excelente fórum de dois tipos de físicos. Primeiro, os físicos do High School, que fazem um panorama dos pontos reais da física para relembrar daquilo que aprenderam na escola, ou uma pitadinha daquilo que está por vir. Eu tinha até alunos de uma High School Junior de Illinois falando comigo sobre como calcular uma coisa falada na série. Segundo, eles (roteiristas) estão referenciando muito os trabalhos que estão sendo feitos em modernos laboratórios por físicos reais. Nesta era em que há uma pequena cobertura sobre a ciência, aqui é um lugar com mais de 15 milhões de espectadores que conseguem ver um pouco sobre os trabalhos científicos modernos. Talvez este seriado faça pelos físicos o que Indiana Jones fez pelos departamentos de arqueologia.
P: Já conheceu algumas pessoas por trás dos personagens? E alguma vez se sentiu (ou sente-se agora) ligado a algum deles? Se sim, qual?
David: Embora não tenha conhecido ninguém tão de perto, fico espantado como várias vezes outras pessoas me dizem que eles têm um “Sheldon” em seus laboratórios. Algumas mulheres contaram-me sobre como têm de lidar com os “Howard Wolowitzetadas” em seus trabalhos. Nunca conheci ninguém com o problema do Raj, mas acho interessante. Leonard parece perfeitamente normal para mim.
P: Já trabalhou em alguma outra série como consultor de ciência?
David: Cheguei a responder algumas inquietações do pessoal que fizeram o filme Anjos e Demônios. Dei algumas dicas sobre trabalhos de aceleração quando eles estavam ligando o LHC (Acelerador de Partículas). Mas nem de longe eu realmente me envolvi neste filme. Por exemplo, e nem mesmo vi o script do filme.
P: Pode dizer-nos algo sobre a sua participação no DVD da 2ª temporada?
David: Vai ser um DVD extra sobre “A ciência do Big Bang Theory”. Eu não vi nada disso ainda, mas eles estão falando sobre me colocar na frente das câmeras. Acho que não vou ter coragem de assistir.
P: Porque você acha que uma série sobre ciência/geek é tão bem-sucedida? É a nova tendência?
David: Não sou o melhor para dizer isso. O que tenho notado é que as pessoas não dizem simplesmente que a série é boa, elas dizem o quanto a adoram. Talvez as pessoas assistam pelos personagens e histórias. Ás vezes é uma história de amor entre jovens, ás vezes uma comédia engraçada como “Laurel and Hardy” (O Gordo e o Magro) e ás vezes, um conjunto de tudo isso. Pessoalmente eu adoro as formas dos roteiros e do elenco. Agora que eu vejo tudo isso de dentro, aprecio muito os valores da produção, como cada brilho nos sets mudam as coisas, a edição e o que eles fazem com as câmeras. É completamente diferente do que assistir na TV ou ao vivo no teatro.
P: Pode nos contar algum segredinho (fato desconhecido) sobre a série?
David: Quase todos os cartazes no bloco de física são verdadeiros. Alguns são feitos pelo nossos estudantes da UCLA sobre seus trabalhos de doutorado. Outros são propagandas de conferências de física que achei em meu escritório. O departamento jurídico tem que limpar cada um deles.
Tradução da entrevista feita por Leandro Kyo: inicialmente publicada aqui em inglês
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