14/08/2009

Não há motivo para pânico com a Gripe A H1N1:Veja recomendações de professores da USP



Existe um excesso de preocupação com a gripe A H1N1, afirmam os professores Eduardo Massad, da Faculdade de Medicina da USP, e Edson Luiz Durigon, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP. Um exemplo dessa preocupação exagerada, segundo eles, é o uso de máscaras. Elas até são úteis, mas apenas para evitar que quem já está doente contamine outros. E, mesmo assim, a máscara que as pessoas têm usado não é a do tipo certo. “Essa é a máscara cirúrgica comum. A que protege um pouco melhor é um tipo especial e possui uma porosidade que impede a contaminação. Mas ela é cara e dura apenas alguns dias”, explica o epidemiologista Eduardo Massad. “Não se justifica usar máscara neste momento. Isso só aumenta o pânico, e as pessoas ficam o tempo inteiro se lembrando de uma coisa que não é tão perigosa assim.”
Para os professores, sempre que aparece um vírus da influenza que causa pandemia e afeta o mundo inteiro, vem a lembrança da gripe de 1918, que matou 100 milhões de pessoas, de uma população de aproximadamente 1 bilhão. O medo coletivo aumenta quando se leva em conta que o H1N1 veio do vírus que causou essa gripe. A partir de 1968, ele passou a circular anualmente, sendo um dos responsáveis pela chamada gripe sazonal, ou gripe comum, segundo Massad.
Nos últimos tempos, o H1N1 sofreu mutações para melhor se adaptar às células receptoras do homem. Quanto mais afinidade tiver com essas células, mais fácil será a infecção e mais rapidamente ela se espalhará. A preocupação com a gripe A também se deve ao fato de ela apresentar algumas características diferentes da forma sazonal, atingindo principalmente pessoas jovens, entre 20 e 50 anos (enquanto a outra atinge mais crianças e idosos) e sendo mais agressiva ao sistema respiratório. “Além disso, a gripe comum acontece aqui e ali, principalmente no inverno. Quando ocorre no Hemisfério Norte, não tem no Sul, e vice-versa. Esta pegou o mundo inteiro, de uma só vez”, completa Massad.

Números não-confiáveisOs dois professores afirmam que as estimativas sobre o número de pessoas infectadas não são confiáveis. A infecção só pode ser confirmada por exames em laboratório, que hoje estão restritos aos casos mais graves, por exigir uma técnica sofisticada de que nem todos os lugares dispõem. “Temos só suspeitas. Como o quadro clínico é muito parecido com o da gripe comum, é possível que o número de pessoas infectadas seja muito maior do que os dados oficiais, mas isso não há como saber”, diz o professor da Faculdade de Medicina.
Esses números, sendo menores que a realidade, fazem a gripe A parecer mais grave, uma vez que a porcentagem de morte acaba sendo inflada. Um dado número de mortos dentro de um universo menor representa uma parcela maior – portanto, uma mortalidade mais alta.
Ainda assim, a taxa de letalidade da gripe A no mundo é baixa – entre 0,1% e 0,5%, semelhante à da influenza comum. “O número absoluto de pessoas que morrem pela gripe comum é muito maior. Estima-se que só na cidade de São Paulo ela mate 15 pessoas por dia. Em julho do ano passado, foram 4.500 mortes no Brasil”, calcula Massad.
A gripe A não é mais mortal que a sazonal. É que não se costuma fazer diagnóstico para a influenza no Brasil, diz o virologista Edson Durigon. “As mortes por influenza comum não são divulgadas. Quando morre alguém por complicações dessa gripe, ninguém diz que é por causa dela. Só se fala da gripe A agora porque está todo mundo atento a ela”, completa.
Uma pessoa com gripe A não deve, portanto, ficar mais preocupada do que uma com gripe normal. Durigon acredita que sua letalidade pode ser ainda menor, porque as pessoas estão indo mais ao médico. A doença é diagnosticada e tratada mais cedo, o que aumenta as chances de a pessoa sobreviver.
Toda influenza pode atingir o sistema respiratório, lembra Durigon, mas a gripe A é mais invasiva, lesando as células e propiciando que bactérias causem pneumonia. Mas um tratamento com antibióticos resolve o problema, se começar cedo. “Em termos de doença, não há diferença maior. E nem sempre essa gripe dá diarreia e vômito. Um estudo notou que há elevação de diarreia, mas não é em todos os casos”, completa. Na maioria dos casos, o resultado é a melhora espontânea do paciente. “Ninguém sabe ao certo, porém, por que em alguns casos morrem pessoas anteriormente saudáveis, que não morreriam da gripe comum”, ressalva Massad.

Mudanças na rotinaA forma mais eficiente de contágio é por meios materiais – colocar a mão em maçanetas contaminadas e segurar os apoios no ônibus, por exemplo. “O vírus é transmitido pelo ar, mas é por pouco tempo que ele circula assim, e só se a pessoa estiver muito próxima de alguém contaminado. Se você respirar muito perto ou se estiver no elevador com uma pessoa gripada e ela espirrar, também pode contrair o vírus”, explica Durigon.
O melhor modo de prevenção é ter hábitos de higiene. “Esta é uma boa oportunidade para as pessoas aprenderem a ter um pouco mais de cuidado com a higiene pessoal. Independentemente da gripe, o fato de elas estarem aprendendo que têm de lavar a mão com frequência, que quando espirrar é preciso pôr a mão na boca, é positivo”, diz Massad. “Isso vai ajudá-las a se proteger de outras doenças.”
Evitar aglomerações também é recomendado. Para quem não pode evitar o uso do transporte público, a recomendação é usar álcool em gel nas mãos depois de sair. O produto mata os vírus e protege a pele. Ou lavar bem as mãos e evitar colocá-las na boca ou no nariz.Não recomendaria a máscara, a menos que você esteja contaminado”, diz Durigon. Uma boa alimentação também ajuda não só a evitar essa gripe, mas qualquer doença, lembra Massad.
Os dois professores concordam que evitar viagens para o exterior deve ser uma decisão pessoal. “É claro que, se puder evitar ir a lugares com epidemia neste momento, a chance de pegar gripe vai ser muito menor, mas se for inevitável…”, diz Massad, que tem uma viagem marcada para a Argentina e manterá seus planos de ir. Para Durigon, adiar as viagens é “excesso de zelo, uma vez que o vírus já está circulando. Se você for sadio, não tem por que adiar”.
Ele acredita ser aconselhável evitar que se levem crianças pequenas, principalmente com menos de um ano de idade, a locais públicos, como cinemas, shoppings e restaurantes cheios. E defende que há motivo para se alterar a rotina, pelo grande número de casos aparecendo ao mesmo tempo. Vale, então, o mesmo conselho: evitar lugares com aglomerações.
Massad acredita que “ainda não é exatamente o caso de se entrar em uma política de restrição tão grande de movimentação”. No entanto, acha que decisões como adiar o início das aulas são positivas por estarmos num período de transmissão da gripe. “Se for possível empurrar isso para a primavera, um grande número de casos pode ser evitado.
Qualquer medida que diminua aglomeração entre as pessoas ajuda.”

O vírus da gripe A H1N1 visto ao microscópio

Previsões O professor do ICB acredita que o mundo ainda terá mais dois ou três meses de gripe A. O professor Massad acha ainda que a gripe veio para ficar e “pode-se esperar mais alguns milhões de casos, principalmente a partir de outubro ou novembro (quando se aproximar o inverno no Hemisfério Norte)”.
Mas tudo vai depender de como esse vírus vai se comportar no segundo semestre. Devido à similaridade com o vírus da gripe de 1918, os professores não descartam a chance de ele voltar nessa época com uma fúria maior. “No passado foi assim. Houve uma pequena onda epidêmica na primavera do Hemisfério Norte, em que a gripe foi branda e praticamente desapareceu no verão. Quando chegou o outono, ela veio muito mais forte. Isso pode acontecer com esse vírus, ninguém sabe”, diz Massad, lembrando, porém, que naquela época não havia antibióticos, o que contribuiu para tamanha mortalidade.
Mas eu não vejo nenhuma razão para a taxa de mortalidade aumentar agora. Se o vírus mata muito, interrompe a transmissão. Do ponto de vista biológico, o que lhe interessa é infectar o maior número de pessoas, e não matar. Isso vale para qualquer agente infeccioso”, explica.
Enquanto isso, as autoridades têm feito um trabalho adequado, acreditam. “Eles fazem o que está ao seu alcance. O remédio é contado e só o liberam com diagnóstico oficial, que costuma levar de 7 a 10 dias, e para pacientes graves ou que tenham risco evidente (idosos, grávidas e crianças pequenas)”, diz Durigon, cujo laboratório realiza exames rotineiros de detecção da gripe para o HU. Para Massad, as autoridades mundiais estão um pouco atônitas com essa gripe e estão aprendendo a lidar com ela. “O ideal seria se já tivéssemos uma quantidade de vacina pronta”, completa.

Fonte:USP

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